A vantagem do tratamento da ELA* por equipes multidisciplinares pelo mundo

por Eliezer Santana Jr.  Nos últimos 20 anos, o atendimento multidisciplinar tornou-se o modelo escolhido para pacientes com ELA* em todo o mundo. A centralização desse atendimento em  centros terciários...

maio 2025

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por Eliezer Santana Jr. 

Nos últimos 20 anos, o atendimento multidisciplinar tornou-se o modelo escolhido para pacientes com ELA* em todo o mundo. A centralização desse atendimento em  centros terciários proporciona diversos benefícios, tanto para os pacientes quanto para a  comunidade de pesquisa. Essa abordagem permite reunir a expertise dos profissionais em  uma doença rara, promovendo uma comunicação mais eficaz entre os membros da equipe.  Isso facilita a tomada de decisões, a implementação de diretrizes avançadas e o acesso  mais rápido e oportuno a disciplinas farmacológicas, nutricionais, respiratórias e  fisioterapêuticas. Além disso, a centralização melhorou a acessibilidade à pesquisa e aos  ensaios clínicos, ampliando as oportunidades de inovação e tratamento.1

Diferentes estudos sobre qualidade de vida apresentaram resultados diversos,  como por exemplo uma pesquisa holandesa que observou uma melhoria na qualidade de  vida, especialmente no funcionamento social e na saúde mental, entre os pacientes  atendidos em centros que possuem uma equipe multidisciplinar, quando comparados  àqueles que receberam cuidados tradicionais.2

Comparações com estudos no Reino Unido e na Austrália mostraram semelhanças  nos benefícios percebidos, como acesso a informações e planejamento do cuidado. A  principal razão para a busca de tratamento multidisciplinar em uma clínica especializada foi a praticidade de reunir múltiplas especialidades em um só lugar. Entretanto, a distância  foi uma barreira significativa, especialmente para pacientes com mobilidade reduzida,  sugerindo a necessidade de alternativas, como clínicas satélites ou uma rede de  especialistas locais.3, 4

No Brasil, pode-se afirmar que parte dos diagnósticos da ELA* acontece de  maneira individual, ou seja, sem o olhar de uma equipe multidisciplinar, o que pode levar  a uma jornada mais longa do paciente. Um estudo revelou que 70% dos 173 pacientes  com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) acompanhados no Brasil receberam  diagnósticos incorretos e, em alguns casos, foram submetidos a cirurgias desnecessárias.5

Observou-se, em particular, que pacientes com sintomas encontrados em membros  foram frequentemente avaliados por cirurgias ortopédicas, que confundiram os sinais da doença com lesões na raiz nervosa ou na medula espinhal. Já aqueles com início bulbar  foram atendidos por otorrinolaringologistas, que nem sempre identificaram corretamente  o quadro. Esses achados ressaltam a importância de uma equipe multidisciplinar no  diagnóstico e manejo da ELA*, sobretudo na observação de sintomas indicativos da  doença, como fraqueza muscular, atrofias, câimbras, fasciculações, descoordenação e  reflexos exacerbados, garantindo que diferentes especialistas, como neurologistas,  ortopedistas e outros profissionais, trabalhem de forma integrada. Essa abordagem  colaborativa não só amplia a compreensão sobre as manifestações clínicas da doença,  como permite que os profissionais de saúde não prescritores auxiliem no diagnóstico, e  contribuam para um plano de tratamento mais preciso e eficaz para os pacientes, através  da busca de um neurologista.5

Nesta comparação entre alguns países, pode-se observar o quanto a  interdisciplinaridade vem ganhando espaço e tem se tornado para um diagnóstico cada  vez mais precoce direcionado, porém ainda é necessário percorrer um longo caminho até  chegar a um serviço de excelência, sobretudo no Brasil.

Diante da corrida tecnológica, a telemedicina foi apontada como uma possível  solução para expandir o acesso aos cuidados especializados, sem a necessidade de  deslocamento do paciente, já que seus movimentos se tornam cada vez mais restritos. Estudos anteriores mostraram que a telemedicina pode melhorar a qualidade de vida e  reduzir custos, mas a viabilidade financeira desses serviços ainda é um desafio.

Embora existam limitações, os estudos fornecem insights valiosos para melhorar  o atendimento de paciente com ALS, ao mesmo tempo que também apontam barreiras  significativas que podem impedir alguns pacientes de acessar esses serviços. Portanto, é  necessário minimizar barreiras e otimizar a experiência do paciente para poder tornar o  modelo multidisciplinar mais acessível e eficiente.

Logo, o cuidado integrado pode ser observado como o melhor caminho para  melhorar a qualidade de vida dos pacientes, visto que o tratamento em associação a  diferentes profissionais como neurologistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais,  fonoaudiólogos e assistentes sociais especializados em ELA*, ajuda muito o paciente a  ter um suporte mais adequado para o tratamento dessa doença que vem desafiando a saúde, seja no Brasil ou em qualquer país no mundo, permitindo não só mais sobrevida,  mas também, e sobretudo, mais qualidade de vida.

* Esclerose Lateral Amiotrófica

Referências

  1. PAIPA AJ. et al. Survival benefit of multidisciplinary care in amyotrophic lateral  sclerosis in Spain: association with noninvasive mechanical ventilation. Journal of  Multidisciplinary Healthcare. 2019 v.12, p. 465–70.
  2. Van den Berg JP, Kalmijn S, Lindeman E, Veldink JH, de Visser M, Van der Graaff  MM, et al. Multidisciplinary ALS care improves quality of life in patients with ALS.  Neurology. 2005;65:1264–7.
  3. O’Brien M, Whitehead, Jack B, Mitchell JD. Multidisciplinary team working in motor  neurone disease: patient and family carer views. Br J Neurosci Nurs2011;7:580–585.
  4. Hodgen A, Greenfield D, Nugus P, Kiernan MC. What influences patient decision making in amyotrophic lateral sclerosis multidisciplinary care? A study of patient  perspectives. Patient Prefer Adherence 2012;6:829–38.
  5. Santos PL., et. al. Abordagens integradas no Tratamento da Esclerose Lateral  Amiotrófica: Perspectivas e Resultados. Brazilian Journal of Implantology and Health  Sciences. 2024; 6:10.