Com base nos resultados do estudo DESTINY-Breast04, publicado no periódico The New Englang Journal of Medicine1 em junho deste ano, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou a nova indicação do medicamento trastuzumabe deruxtecana, fruto de uma aliança global entre a farmacêutica japonesa Daiichi Sankyo e a AstraZeneca, para pacientes adultos com câncer de mama metastático ou não ressecável, com baixa expressão da proteína HER2 (IHC 1+ ou IHC 2+/ISH-) que tenham recebido uma terapia sistêmica prévia, ou no cenário metastático ou que desenvolveram recorrência da doença durante ou dentro de 6 meses após a conclusão de quimioterapia adjuvante, e que até então não eram elegíveis ao tratamento4.
A avaliação pela Anvisa foi feita por meio do projeto Orbis, programa colaborativo internacional idealizado pela agência norte americana FDA (Food and Drug Administration), que visa facilitar e acelerar o acesso a terapias inovadoras contra o câncer em diversos países10.
O trastuzumabe deruxtecana já está aprovado no país desde outubro de 2021, inicialmente para o tratamento de câncer de mama metastático HER2 positivo em 3ª linha2 e em junho de 2022 para o tratamento de câncer de mama metastático HER2 positivo em 2ª linha3.
“Aproximadamente metade de todos os pacientes com câncer de mama têm tumores que são HER2-low, que foram anteriormente classificados como HER2 negativos e não tiveram opções de tratamento eficazes com medicamentos direcionados ao HER2”, afirma Shanu Modi, MD, oncologista clínica do Memorial Sloan Kettering Cancer Center e investigadora principal do estudo DESTINY-Breast04. “Com base nos resultados promissores do estudo DESTINY-Breast04, os oncologistas estão começando a diferenciar os níveis de expressão de HER2 e redefinir como o câncer de mama metastático é classificado como uma população distinta de pacientes com baixo nível de HER2, que pode ser elegível para trastuzumabe deruxtecana”, completa a médica.
O estudo DESTINY-Breast04 com o trastuzumabe deruxtecana, terapia-alvo do tipo ADC (conjugado de anticorpo-medicamento), contou com a participação de 557 pacientes com câncer de mama metastático HER2 de baixa expressão (do inglês, HER2-low). Na população geral do estudo de pacientes com câncer de mama metastático HER2-low com receptor hormonal positivo ou negativo, e HER2-low (tanto IHC 1+, como também IHC 2+/ISH-), trastuzumabe deruxtecana conferiu uma redução de risco de 50% de progressão da doença ou morte quando comparado ao grupo que recebeu quimioterapia (HR=0,50; IC 95%:0,40-0,63; p<0,0001), com sobrevida livre de progressão mediana de 9,9 meses (IC 95%: 9,0-11,3) para trastuzumabe deruxtecana versus 5,1 meses (IC 95%: 4,2-6,8) naqueles tratados com quimioterapia, conforme avaliado pelo Comitê de Revisão Central Independente Cega. Uma sobrevida global mediana de 23,4 meses (IC 95%: 20,0-24,8) foi observada em pacientes tratados com trastuzumabe deruxtecana, versus 16,8 meses (IC 95%: 14,5-20,0) em pacientes tratados com quimioterapia (HR=0,64; IC 95%: 0,49-0,84; p =0,001). Com essa nova indicação, a população de pacientes com câncer de mama que poderá se beneficiar do tratamento com trastuzumabe deruxtecana passa de 15% para 60%1, 9.
Mecanismo de ação do trastuzumabe deruxtecana
Os ADCs são medicamentos que utilizam um biomarcador como “alvo”; no caso do trastuzumabe deruxtecana, o anticorpo é direcionado à proteína HER2, ligado a um quimioterápico que é carregado diretamente às células tumorais que expressam HER2. É uma estratégia que se assemelha à do “Cavalo de Troia”, pois um anticorpo monoclonal libera o quimioterápico na célula tumoral apenas após conectar-se a ela. Com isso, o propósito dos ADCs é aumentar a eficácia de quimioterápicos, por ser uma terapia-alvo, e minimizar os efeitos adversos sistêmicos quando comparados à quimioterapia convencional5, 6.
‘‘Estamos começando a desenhar uma nova história para o tratamento de câncer de mama no Brasil com os ADCs da Daiichi Sankyo. O sentimento é de muito entusiasmo com as novas perspectivas que essa aprovação traz aos pacientes brasileiros. Nos últimos anos, observamos avanços consideráveis nos recursos tecnológicos e científicos disponíveis para o tratamento do câncer, que caminha para se tornar uma doença crônica, e não mais uma sentença de morte. Esta aprovação permite que a população de mulheres beneficiadas pelo tratamento seja consideravelmente ampliada, o que muda a prática clínica e eleva o potencial de assistência às necessidades não atendidas dos pacientes no Brasil” diz Gabriela Prior, Diretora de Assuntos Médicos da Daiichi Sankyo Brasil.
Em todo o mundo, estima-se que 15% a 20% dos tumores mamários apresentam superexpressão do gene HER2, sendo que aproximadamente 50% que são classificados como negativos expressam baixos níveis de HER26,9, caracterizando como HER2-low. Já no Brasil, cerca de 66 mil mulheres serão diagnosticadas com câncer de mama no Brasil em 20227, sendo que 35% delas podem estar em fase avançada ou metastática, ou seja, cerca de 23 mil mulheres (8). Além disso, estima-se que cerca de 36 mil casos poderão ser classificados como HER2 de baixa expressão.1, 9